Cartas históricas enviadas por intelectuais são destaques do acervo João Chiarini, no CCMW

Na época em que se enviavam cartas escritas à mão para compartilhar notícias, era fácil identificar as escritas pelo professor, jornalista e folclorista piracicabano João Chiarini (1919-1988). A maioria delas continha, em torno do nome do destinatário, ilustrações e frases de efeito coloridas. As respostas para essas cartas estão dentre as raridades históricas que podem ser vistas e consultadas no acervo formado por ele e, que, hoje, está sob a guarda e preservação no Espaço Memória Piracicabana do Centro Cultural Martha Watts. O motivo? São cartas escritas por intelectuais como o sociólogo francês Roger Bastide (1898-1974), o escritor baiano Jorge Amado (1912-2001), o escritor e dramaturgo Oswald de Andrade Filho (1890-1954) e o poeta Mário de Andrade (1893-1945), dentre outros.

Além dessas correspondências, o acervo criado por João Chiarini reúne também acervo fotográfico com mais de 1.500 imagens; registro documental do Centro de Folclore de Piracicaba; livros da biblioteca pessoal e todo o registro de folclore guardado por Chiarini ao longo de sua vida. Vivian Monteiro, técnica de acervo e que trabalha há cinco anos no local, conta que no arquivo estão exemplares de revistas russas e mexicanas, slides, coleção de discos de vinil, monografias, literatura de cordel e a coleção de revistas Manchete.

PRECIOSIDADES FOLCLÓRICAS

Parte do material existente no acervo de João Chiariani foi reunido no período em que o jornalista atuou no Centro de Folclore de Piracicaba, fundado por ele em 1945 e que funcionou até o final dos anos 1960. De acordo com Vivian, a parte documental do acervo do Centro de Folclore ainda está em processo de catalogação.

Apenas o acervo fotográfico reúne 1.500 imagens sobre eventos e temas distintos, como a Festa do Divino, cateretê, cururu, congada, samba de lenço, imagens de folclore de outros países e da cidade de Piracicaba, além de outras manifestações culturais. “Analisando o registro do Centro de Folclore, vemos que era um lugar bastante movimentado por grupos folclóricos da cidade e de toda região. Chiarini promovia a vinda para Piracicaba de diversos intelectuais e pesquisadores de folclore com o intuito de conhecer e registrar os diversos movimentos culturais na cidade. Ele foi um grande divulgador do folclore do interior”, afirma Vivian.

Já na biblioteca pessoal que pertenceu ao folclorista, é possível encontrar exemplares sobre temas que vão desde literatura infantil até agronomia e química. Segundo Vivian, muitos são raros.

PESQUISAS

Pelos elementos e imagens que reúne, o acervo de João Chiarini é frequentemente visitado por pesquisadores, acadêmicos, curiosos sobre o tema de folclore e por alunos do ensino médio. A técnica conta que as pesquisas desenvolvidas no local têm como temas música popular, manifestações folclóricas de Piracicaba e região, livros escolares, revistas antigas e de outros países, a correspondência de Chiarini, além de monografias, literatura de cordel e poesia popular.

Uma dessas pesquisas foi desenvolvida pela coordenadora do curso de história da Unimep, profª Virginia Camilotti. Em 2015, ela localizou duas cartas enviadas por Mário de Andrade ao folclorista. Nesse semestre, o resultado desse trabalho foi publicado por ela no artigo “necessariamente ‘musicada’”, divulgado na edição 67 da Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo.

JOÃO CHIARINI

Professor, advogado, vereador, jornalista, membro de vários órgãos e instituições existentes em Piracicaba foram algumas das funções desempenhadas por João Chiarini ao longo de sua vida. Além disso, em sua trajetória, Chiarini formou um acervo significativo de livros, revistas, recortes e correspondências.

No ano de 1996, o seu arquivo passou à guarda da Unimep e, em 2003, foi integrado ao Espaço Memória Piracicabana, no Centro Cultural Martha Watts, onde é preservado e permanece disponível para consulta e pesquisa.

ANOTE – Centro Cultural Martha Watts (rua Boa Morte, 1,257, Centro, Piracicaba). Visitas de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 17h. Entrada gratuita. Informações: (19) 3124-1889.

Texto: Angela Rodrigues
Edição e coordenação: Celiana Perina
Fotos: banco de imagens
Última atualização: 16.11.2017