Com projeto financiado pela Fapesp, aluno busca entender como os cegos percebem o mundo
Por duas vezes na semana, o universitário Endrius Robert Lopes, 21, que cursa o 7º semestre de psicologia na Unimep, acompanha a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), Rosana Davanzo Batista (foto ao lado), que é cega congênita, na escola em que ela realiza pesquisa sobre alfabetização e letramento de alunos cegos, com ênfase na desbrailização. A iniciativa faz parte do projeto de iniciação científica do aluno, que em abril foi contemplado com bolsa de iniciação científica da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). O projeto será financiado até março do próximo ano.
Com o título Passos Cegos: Acompanhando Itinerários e Trajetos de Uma Pesquisadora Cega pela Cidade e no Campo de Estudo, a pesquisa é orientada pela professora do PPGE, Maria Inês Bacellar Monteiro, e conta com o auxílio de Rosana, sujeito de pesquisa do projeto. O objetivo, conta o estudante, é procurar compreender como os cegos percebem o mundo. “Mais especificamente, busco conhecer como é o pesquisar de uma doutoranda cega congênita. Como ela sente, se relaciona e descreve seu campo de estudo mesmo sem vê-lo ou não o vendo da mesma maneira que a maioria dos pesquisadores veem. É isso que pretendo descobrir”, destaca.
Para a orientadora Maria Inês Monteiro, o estudo trará contribuições para compreender como pessoas cegas constroem imagens e significam o mundo à sua volta. “A cidade, bem como as escolas, oferecem obstáculos ao cego uma vez que são espaços planejados para aqueles que usam a visão. Os resultados serão importantes tanto para a psicologia, como para a educação e outras áreas afins”.
PASSOS
O campo de estudo inclui a residência da doutoranda, o trajeto feito por ela até a escola e o campo de atuação. “Observo a forma como ela pesquisa e se relaciona com o campo em que atua”, detalha. Na etapa atual da pesquisa, o universitário já aponta a existência de pouca bibliografia sobre o tema. “A produção e divulgação de conhecimentos referentes à educação especial, área em grande expansão, e, mais especificamente, em relação ao fato de como o cego percebe o mundo serão as principais contribuições do projeto. Espero que esses conhecimentos auxiliem muitas pessoas a melhor compreenderem como é o universo de uma pessoa cega congênita”, afirma. Além disso, Lopes cita que o aprendizado irá contribuir à sua formação como psicólogo e ser humano. “Já aprendi muitas coisas que contribuíram, e contribuirão ainda mais, para a minha formação, como por exemplo a capacidade de se colocar no lugar do outro e melhor compreender o que ele sente e como posso ajudá-lo”, afirma.
Também de acordo com a professora Maria Inês, a iniciativa estimula a produção de outras pesquisas relacionadas ao tema. “Os estudos sobre pessoas com deficiência realizados pelo nosso grupo de pesquisa têm colaborado para a formação de estudantes da graduação, proporcionando a troca com alunos do mestrado e do doutorado, introduzindo-os na pesquisa científica, estimulando o desenvolvimento do pensar cientificamente e da criatividade, decorrentes das condições criadas pelo confronto direto com os desafios atuais de uma sociedade que busca a inclusão social”, acrescenta.
Texto: Angela Rodrigues
Fotos: acervo pessoal
Edição: Celiana Perina
Última atualização: 20/05/2016