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Do assentamento para a universidade

por Universidade Metodista de Piracicaba — publicado 24/12/2012 14h23, última modificação 26/04/2016 15h49
Dentre as lembranças de infância de Daniely dos Santos, 21 anos, está a de vários estudantes trajados de branco que ofereciam atendimento odontológico às crianças que residiam no mesmo local que ela: um assentamento. Passados mais de dez anos, é ela própria que, como aluna do 8º semestre do curso de odontologia da Unimep, desenvolve esse trabalho para comunidades de Lins e região. “Lembro-me de um trailer, que ia até a escolinha para fazer o atendimento. Atualmente, realizamos essas atividades na graduação, em locais distintos, mas ainda não participei de nenhuma no assentamento onde vivo. Sempre sonhei fazer odontologia, e optei por estudar aqui, já que minha irmã também formou-se na Unimep”, conta ela. Nascida em Cafelândia, Daniely vive desde os quatro anos na agrovila Penápolis, ligada ao assentamento Reunidas, distante 35 quilômetros do centro de Promissão, interior paulista. Ela ingressou no assentamento acompanhando os pais, a irmã e o irmão mais velhos.

A área, na qual antes existia uma fazenda, foi desapropriada pelo Governo Federal, em 1986. O tamanho total do assentamento é de mais de 17 mil hectares, dividido em sete grandes agrovilas: São Pedro, Penápolis, Birigui, José Bonifácio, Campinas, Central e agrovila dos 44, além de outras cinco pequenas agrovilas. “Para ingressar, tem de ser baixa renda e necessitar mesmo, porque o governo é quem escolhe. A minha família entrou pela condição. O terreno é do governo, é para ele que a gente trabalha”, afirma a estudante. Ela conta que no local residem 637 famílias e aproximadamente cinco mil pessoas. Cada família é responsável por um lote de oito hectares. “É como uma agricultura familiar, cada família realiza uma ou mais atividades agrícolas”, afirma.

A universitária conta que as agrovilas possuem escola, posto de saúde e espaços para esportes, como campo de futebol, além de locais para reuniões, festas e gincanas. Na de Penápolis, distante cerca de sete quilômetros de Promissão, a produção dos moradores é voltada à agricultura, pecuária e extração de leite. “Produzimos milho, leite, soja, feijão e arroz. A gente sobrevive do que planta”, conta. A família de Daniely é responsável por cuidar de aproximadamente 30 cabeças de gado e também por desenvolver práticas agrícolas. Por esse motivo, a rotina da jovem começa cedo. Às seis da manhã, ela já está de pé para ajudar o pai a lidar com o gado e tirar leite. Além disso, ela colabora com as atividades agrárias. “Nos dias que preciso estudar mais, acordo bem mais cedo. Temos de cumprir o horário do gado, que é o de tirar o leite de manhã e cuidar dos animais, Depois, trabalhamos na roça”, conta. À noite, ela frequenta as aulas. Ao ingressar na Unimep, em 2009, tentou bolsa por meio do Prouni, mas não conseguiu. No entanto, obteve auxílio financeiro por meio de estágio na faculdade. No ano seguinte, tentou novamente o Prouni e conseguiu bolsa integral.

Daniely afirma gostar de viver no assentamento, mesmo definindo o estilo de vida diferente do existente na cidade. “A vida é humilde, a gente vive feliz, vive bem, mas é bem diferente da cidade”, compara a aluna, que no assentamento cursou até a quarta série do ensino fundamental. “Gosto muito de viver lá, mas a gente tem sempre de buscar o melhor, e sempre estudar até para poder levar outros benefícios para os que vivem lá”, afirma. Dentre os planos futuros, está a de prosseguir os estudos, mas também conciliar a profissão com o oferecimento de atendimento odontológico à comunidade onde vive.

Texto: Angela Rodrigues
Fotos: Fábio Mendes
Última atualização: 24/12/2012
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