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Docente dos cursos de pós-graduação, prof. Ricardo Souza, fala sobre impactos e perspectivas para a economia após a pandemia

por Angela Rodrigues publicado 13/04/2020 02h00, última modificação 09/10/2021 01h31

Pensar sobre quais serão os principais impactos, em distintas áreas, da atual crise vivida no mundo; como esses desafios poderão ser superados; como se tornarão as práticas de trabalho e de outros processos cotidianos após as transformações surgidas para o enfrentamento da pandemia são algumas das questões mais levantadas e atualmente debatidas por especialistas, estudiosos, líderes e representantes da sociedade e também pela população em geral.

No entanto, um dos setores mais afetados, o da economia, poderá apontar as respostas ou caminhos para quase todos esses e outros questionamentos. Para identificar as possíveis perspectivas para os próximos meses e analisar possíveis cenários, o Acontece Unimep conversou com o professor dos cursos do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu, administrador financeiro e especialista em finanças e controladoria, Ricardo de Souza.

Confira os melhores trechos da entrevista:

Acontece Unimep – Quais serão os principais impactos do coronavírus para a economia do Brasil e para o mundo em geral?
Ricardo de Souza – Bom, em minha opinião, essa pandemia afeta as três bases dos pilares de desenvolvimento de qualquer país, a saber: o âmbito ambiental, social e econômico, seja indiretamente ou mesmo diretamente. Vou focar no econômico que é mais voltado à minha área, e também é a temática da pergunta. Precisamos considerar que impactos intensos como este geram efeitos em cadeia, em outras palavras, é como quando jogamos uma pedra em um lago, e vai causando aquelas "ondinhas". Teremos impactos com a economia paralisada (principalmente para autônomos e pequenas empresas); teremos desaceleração na economia global; empresas entregando menos, pois ao não ter o ciclo produtivo, também não produzem, isso afeta seus fornecedores, clientes, colaboradores e sociedade como um todo, e sem esse ciclo econômico, afeta a procura das pessoas por produtos; ou seja, sem trabalho e sem renda, muitos deixarão de comprar, logo o efeito é em cadeia, tanto no Brasil como no mundo, respeitada as devidas particularidades de cada país.

Acontece – O Brasil corre o risco de entrar em colapso financeiro, durante ou após a pandemia?
Ricardo de Souza – Colapso financeiro é uma expressão forte, estamos em uma crise, todavia, o que difere esta das outras crises, é que a atual não foi causada por algum problema interno, pelo contrário, a pandemia afeta diversos países. Agora, é óbvio, que cada país possui uma realidade financeira e política, e esses dois fatores interferem muito para que uma crise possa ser agravada ou não. O risco é existente como também para as demais economias, entretanto, riscos devem ser controlados e mitigados; as medidas, direcionamentos e decisões políticas que serão adotadas ou implementadas nos próximos dias apontarão para qual rumo iremos caminhar.

 

Acontece – Como avalia as medidas adotadas até o momento pelo governo para solucionar a crise?
Ricardo de Souza – Primeiramente, é necessário entender que esta é uma situação de crise nova para este e todos os outros governos, e que a realidade social, econômico-financeira, sistema de saúde, política, entre outras, é diferente em cada país. Logo, as orientações e bons exemplos internacionais devem ser estudados para que possam fornecer uma "luz" para então implementar medidas para a realidade brasileira; contudo, deve haver união de esforços e, principalmente, conselho de especialistas, esta não é uma discussão economia versus saúde, estamos em uma crise, e para implementarmos a melhor medida devemos extrapolar as barreiras e discussões polarizadas, pois este é o modo correto de avaliar uma medida política, principalmente em tempos de crise.  

Acontece – Em relação ao mercado de trabalho, quais serão os principais reflexos?
Ricardo de Souza – Com a economia em aceleração há um reflexo direto no mercado de trabalho, todavia, quando o inverso ocorre o efeito também é diretamente sentido. Contudo, da forma contrária, logo, como esta crise impacta diretamente o desempenho e a saúde financeira das empresas e do país, a oferta de empregos também estará comprometida; mesmo com algumas medidas públicas para conter a questão, teremos um reflexo na taxa de desemprego, afinal o Brasil possui uma parcela expressiva da economia informal, pequenos negócios, autônomos, e estes sofrerão de forma mais intensa o impacto, deixando de consumir no mesmo patamar de antes, também afetarão indiretamente outros empregos.  Volto a repetir que o papel político poderá interferir nesse efeito.

Acontece – Quais serão os principais resultados dessa pandemia aos empreendedores, e o que eles podem fazer para minimizar essas consequências?
Ricardo de Souza – No Brasil, os empreendedores já possuem uma trajetória difícil, e em situação normal da economia grande parte dos novos quebram logo no primeiro ano de atividade. A crise tem agravado esse cenário, todavia, onde muitos veem um impasse o empreendedor consegue ver uma solução, e estes conhecem melhor do que ninguém o próprio negócio, e como eles podem reinventar esse negócio para atender determinada necessidade (razão de ser do negócio) mesmo diante da conjuntura atual. É necessário que ele intensifique o relacionamento com o cliente, para que a crise não cancele a compra do serviço ou produto dele, e sim, apenas postergue, é necessário também estar atento às medidas e benefícios dos diversos órgãos e instituições que permitirão um alívio ao caixa do negócio, para que ele possa se manter. E, se for necessário, alguns ajustes para diminuir as despesas fixas devem ser estudados, pois essa três dicas combatem os maiores vilões de um novo negócio, a saber: 1. planejamento em relação às vendas e relacionamento com cliente; 2. descasamento de contas e fluxo de caixa; e, 3. despesas fixas altas sufocando o negócio. 

Acontece – Quais ações os estudantes universitários podem adotar em relação às finanças, gastos ou investimentos para o enfrentamento da crise?
Ricardo de Souza – A dica principal é: se as entradas são incertas, deve-se repensar os gastos! Se determinada pessoa foi diretamente afetada perdendo o negócio, emprego ou diminuição no salário, também deverá ser estudado uma readequação no padrão de vida, e consequentemente no planejamento; é necessário estudar novamente os planos e projetos, e analisar se os mesmos devem ser intensificados ou reajustados, afinal, é importante de tempos em tempos realizarmos esta avaliação da nossa vida financeira. 

Acontece – É possível afirmar quais serão os países economicamente mais afetados? Por que essas nações serão as mais prejudicadas?
Ricardo de Souza – O efeito econômico depende da situação econômico-financeira presente do país, como também da possibilidade das medidas políticas para mitigar o efeito de uma crise econômica mais severa. Dentre alguns grupos de países que podemos citar são: países mais pobres, países em desenvolvimento que estão fortemente endividados, pois um plano de ação mais ambicioso não será possível, como em outros países de economia mais sólida e uma realidade econômico-financeira distinta. Poderia citar também, países que são exportadores de matéria-prima, devido ao fechamento das fronteiras, ou mesmo aqueles que possuem um impacto econômico diante de um dólar mais forte; em curtíssimo prazo, temos alguns países como aqueles que possuem a economia voltada ao turismo ou a grandes eventos que ocorreriam esse ano, ainda há aqueles que serão afetados devidos os impactos na cadeira global, que é integrada. 

Acontece – Há setores que podem alcançar resultados positivos com a pandemia do Covid-19? Quais são eles?
Ricardo de Souza
– Em um curtíssimo prazo, é possível avaliar, agora em médio e longo prazo, ainda dependerá da condução do governo, pois algumas medidas que ainda estão sendo estudadas pelo governo alterariam totalmente o cenário, logo, as eventuais opiniões de setores. O setor farmacêutico, empresas voltadas ao e-commerce, que conseguem manter as atividades ou mesmo tem a atividade impulsionada com a crise ou isolamento social, setor energético, setor de comunicação e entretenimento, pois atualmente são mais requeridos. É óbvio que a minha pontuação é restrita ao curto prazo, entretanto como citei, as medidas que serão adotadas podem alterar totalmente o cenário em médio e longo prazo, tornando outras análises ultrapassadas.

 

Entrevista e texto: Assessoria de Comunicação e Imprensa Unimep
Fotos: acervo pessoal Ricardo de Souza e banco de imagens Unplash/Helloquence
Última atualização: 06/04/2020