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Educação ambiental e luta contra a privatização são deveres de todos

por Universidade Metodista de Piracicaba — publicado 13/04/2015 07h18, última modificação 26/04/2016 15h52

Lutar contra a privatização, debater questões políticas, direitos humanos e justiça ambiental, reinventar formas de administração e educar a população para o uso racional da água são medidas que todos deveriam adotar em defesa da água e para mantê-la como um bem público. Essa é a avaliação da profª Maria Guiomar Tomasiello, docente e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) na Unimep e coordenadora do Núcleo de Educação em Ciências da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo (Feau), Magui, como é mais conhecida, é graduada em física pela UFScar, mestre em energia nuclear, especialista em educação ambiental e doutora em tecnologia nuclear pela USP.

“Em várias partes do mundo a água é considerada mercadoria, com um valor de mercado estabelecido pela lei de oferta e procura, não mais como direito humano, mas como investimento. É contra essa privatização que devemos lutar. A água é um bem público.”, destaca. A docente é a última entrevistada da série de matérias especiais relacionadas à campanha Apague o Desperdício, promovida pelo Departamento de Administração dos campi e Departamento de Comunicação e Marketing com apoio da Reitoria. Confira a entrevista completa:
 

Acontece – O que pode ou deve ser feito pelas autoridades políticas e também pela população em geral para evitar a crise hídrica?

Magui – Um problema ambiental se resolve com políticas públicas e com o apoio individual das pessoas. Em curto prazo a economia de água e o reuso, rodízio, vantagens econômicas para quem economizar, multas para quem se exceder, diminuição de consumo em condomínios, indústrias e na agricultura são iniciativas importantes assim como a coleta de água da chuva para uso menos nobre, como lavagem de quintal, calçadas e uso em descargas. A médio e longo prazos seriam novos sistemas de captação de água, providências para evitar as perdas, implantação de sistemas de coleta de água de chuva e de novos sistemas de descarga e o plantio de árvores, nas nascentes, nas represas e margens dos rios. Mas a grande questão é a privatização da água. Os serviços estão parcialmente privatizados uma vez que mais de 49% do capital da Sabesp está nas mãos de acionistas e controladores privados que visam somente lucro. Países como a Inglaterra e a Itália estão revendo a privatização dos serviços uma vez que a água piorou em qualidade e encareceu. A grande questão não é só a privatização dos serviços, mas a privatização da água. É contra essa privatização que devemos lutar. A água é um bem público.
 

Acontece – Como a educação ambiental pode mudar a falta de planejamento de captação de água, além do desperdício?

Magui – A educação ambiental tem que ir além das questões que envolvem desperdício e captação. Discutir questões mais de fundo político, direitos humanos e justiça ambiental. Creio que essa falta de água e o desperdício, de certa forma, ajudam a quem quer ter ou tem lucros com a água. Estamos a caminho da privatização geral de um bem comum que é a água. Acaba havendo uma aceitação geral de que a água é escassa, que as pessoas não cuidam, não valorizam, então alguém tem que gerenciar o produto, cuidar do que nós não cuidamos, salvar-nos. Aí é que mora o perigo. Esse alguém são as grandes empresas que vão aumentar ainda mais os seus lucros. Será que as pessoas sabem que o maior lucro da Nestlé é com a venda de água engarrafada? Enquanto que o poder público vai se omitindo de oferecer água boa à população, pois cabe a cada um se virar como pode para conseguir água de qualidade para a sua família. Enfim a água está a um passo de se tornar uma mercadoria e não mais um bem público! É claro que os mais pobres vão sofrer mais com isso.

Acontece – Na prática, quais podem ser os principais problemas caso sejam adotadas políticas de racionamento de água e energia?

Magui – O racionamente sempre traz transtornos para a população, em geral, para os mais pobres. Sem água e sem energia, diminuem os postos de trabalho, aumenta o desemprego, aumentam as doenças, aumenta o custo de vida, a inflação, a violência, piora o trânsito. E nem precisa durar muito tempo a restrição à água e à energia para se instaurar o caos na cidade. Por isso, é preciso prevenção, economia, bom gerenciamento. A população tem que ser informada do que realmente está acontecendo. Se houver esclarecimentos da real situação, se a população tiver confiança em seus goventantes, ela responde favoravelmente. Infelizmente no Brasil (e também no resto do mundo) a classe política está entre as de menor credibilidade, o que faz por merecer. Sem água e sem energia não há qualidade de vida!
 

Acontece – A população está preparada para enfrentar um cenário de redução e racionamento de água e energia elétrica?

Magui – A população não está preparada, mas na educação ambiental trabalhamos também com o conceito de crise e oportunidade. São nas crises que conseguimos com que as pessoas se sensibilizem mais (afinal elas estão sofrendo com a falta de água). É o momento para que as escolas, universidades, mídia, tragam à discussão a questão da água, fundamental a nossa sobreviviência. Por isso parabenizo a iniciativa da Unimep ao dar evidência ao tema.

Que essa discussão seja ampliada e que não fique somente a preocupação em conseguir mudanças culturais, mudanças de comportamentos individuais, mas que se almejem mudanças de valores, respeito às políticas públicas, novos padrões éticos para a relação com a natureza. Precisamos reinventar as formas de administração da Terra! Temos que politizar a educação ambiental! Não se trata de política partidária!! “Politizar a questão ambiental significa compreender e tratar os recursos naturais como bens coletivos indispensáveis à vida e sua reprodutibilidade e o acesso a esses recursos como um direito público e universal”.


Texto: Angela Rodrigues
Fotos: divulgação
Edição: Celiana Perina
Data: 13/04/2015

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