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Ética na tradução e interpretação da língua de sinais é o tema da tese de unimepiana

por Angela Rodrigues publicado 01/08/2016 05h00, última modificação 17/08/2016 14h02

Integrar e fornecer acesso ao conhecimento para um grupo excluído pela sociedade é a grande responsabilidade que o tradutor e intérprete de libras (Tils) tem nas mãos. A ética envolvida nessa ação é delicada e fundamental. Andréa da Silva Rosa, 48, doutoranda em educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Unimep e coordenadora da Central de Tradutores e Intérpretes de Língua de Sinais da Unicamp, sabe a importância desse tema. Ela defendeu a tese A Alteridade Como Fundamento Ético Para a Tradução e Interpretação da Língua de Sinais na Sala de Aula, que foi orientada pela professora Maria Inês B. Monteiro.

A equipe do Acontece Unimep entrevistou Andrea. Confira os melhores trechos do bate-papo:

Acontece Unimep - Por que decidiu abordar esse tema?

Andréa - A decisão é resultado da minha trajetória profissional, sou intérprete de língua de sinais há 22 anos. No começo, eram poucas as informações sobre a tarefa do intérprete, pois em 1995, quando eu comecei, a língua de sinais não era ainda reconhecida como direito das comunidades surdas e, tampouco, a atividade de intérprete era pensada como profissão e objeto de pesquisa. A língua de sinais foi reconhecida como direito legal de comunicação das pessoas surdas por meio da Lei Nº 10.436 de 24 de abril de 2002. Iniciei a atividade de tradução em espaços religiosos, em 1995, e de eventos acadêmicos, na Unicamp, em 1999.

Acontece Unimep - Como é o trabalho do tradutor e intérprete da linguagem de sinais?

Andréa - O tradutor e intérprete de libras (Tils) é o mediador entre a comunidade surda e a ouvinte. Sendo assim, para que os surdos possam se apropriar do conhecimento distribuído na sociedade e, principalmente, nos espaços educacionais, é necessária a presença do Tils. Nem sempre quem os contrata tem noção da responsabilidade e da complexidade que é a tarefa de traduzir para um grupo naturalmente excluído da sociedade. Ao realizar um trabalho de baixa qualidade, sem compromisso ético, o Tils perpetua a situação excludente do surdo, mesmo este estando presente na sala de aula e com a sua língua inserida no contexto educacional.

Acontece Unimep - Qual a importância da sua pesquisa para a população deficiente e para o tradutor e intérprete de libras?

Andréa - Aos surdos, permite fazer distinção entre o profissional ético e o não ético e assim poderão ser mais seletivos na contratação dos mesmos, e ao Tils, apresenta melhoria na sua formação.

Acontece Unimep - Como avalia a influência do curso no desenvolvimento da sua pesquisa?

Andréa - O curso possibilitou abertura para pensar a ética além da dicotomia ética e moral, o que, no caso da minha tese, foi o divisor de águas. Pude pensar a ética como um lugar de respeito à alteridade. Somos éticos quando respeitamos a diferença e, no caso do Tils, significa respeitar a língua e a cultura da comunidade surda durante a tradução, produzindo trabalho de qualidade linguística semelhante ao que está sendo dito em português. Quero destacar que a forma como a professora Maria Inês Monteiro conduziu as orientações do meu trabalho, durante o processo de escrita, contribuiu para que eu obtivesse êxito na minha tese.

Acontece Unimep - Qual é a sensação após terminar o trabalho e defender a tese?

Andréa - É um misto de dever cumprido e, ao mesmo tempo, sentimento de desafio, pois ao concluir o texto surgiram outras questões como: é possível ensinar o Tils a ser ético?  Essa é uma discussão que não coube no limite do meu trabalho.

 

Texto e entrevista: Serjey Martins
Edição: Celiana Perina
Fotos: acervo pessoal
Última atualização: 17/08/2016