Exigir políticas públicas é uma das ações para evitar crise hídrica
Aumento das tarifas de água e energia, racionamento e possibilidade de apagão são alguns dos efeitos da atual crise hídrica no país nas grandes cidades e cenários urbanos. No entanto, tão importante quanto pensar nessas consequências para planejar ações ou exigir mudanças políticas também é saber os principais efeitos da falta de água para a natureza e ecossistema, visando evitar ou minimizar a ocorrência de danos tão ou mais graves e complexos que possam surgir dos desequilíbrios ambientais causados pela falta de água e das chuvas.
Em continuidade à série de matérias especiais relacionadas à campanha Apague o Desperdício, promovida pelo Departamento de Administração dos campi e Departamento de Comunicação e Marketing com apoio da Reitoria, a professora Sílvia Regina Gobbo Rodrigues fala sobre os principais efeitos no meio ambiente de Piracicaba e região provocado pela falta de chuvas dos últimos meses.
Vinculada à Faculdade de Ciências da Saúde (Facis), Silvia leciona na Facis e também na Faculdade de Engenharia de Arquitetura e Urbanismo (Feau) da Unimep desde 2012.
A série ainda irá apresentar outras duas entrevistas com professores e pesquisadores que falarão sobre o tema da água dentro de suas áreas de atuação e pesquisa. Confira os melhores trechos do bate-papo com a pesquisadora.
Acontece Unimep Considerando o meio ambiente de Piracicaba e região como cenário, quais são os resultados da falta de chuvas?
Sílvia Regina Gobbo Rodrigues Podem ser várias, incluindo déficit hídrico no solo, afetando a agricultura. Outra preocupação é que há uma medida de restrição da Agência Nacional de Águas (ANA) e Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) que obriga uma redução de captação de 30% para indústrias, 20% para agricultura e 20% para abastecimento urbano ao longo das bacias do PCJ (Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí) se o sistema Cantareira chegar a 5% do seu volume. Se esta medida de restrição entrar em vigor podemos ter um forte impacto na economia da região.
Acontece Unimep Quais são as esferas da natureza mais prejudicadas com a falta de chuvas?
Sílvia A falta de chuvas e consequente baixa umidade do ar é algo que afeta todos os seres vivos. A atividade física deve inclusive ser suspensa se houver baixa umidade do ar. Mas talvez o maior problema é que Piracicaba está na região de recarga de muitos aquíferos, inclusive o do Guarani. Estes aquíferos podem ser afetados se não houver recarga e forem excessivamente explorados por poços.
Acontece Unimep Quais espécies de animais e plantas são as mais prejudicadas e por quê?
Sílvia Todo o ecossistema sofre com a falta de chuvas. Porém como na nossa região os ecossistemas já vivem em stress por conta do desmatamento, a falta de chuvas pode levar algumas espécies à extinção na região (peixes e algumas espécies nativas da vegetação). No caso de plantas e animais temos que pensar também na produção agropecuária que pode ser prejudicada.
Acontece Unimep Quais atitudes devem ser adotadas por todos para minimizar as consequências negativas da crise hídrica na natureza?
Sílvia 1º) Organize a comunidade para retirar o lixo, replantar espécies da mata ciliar e cuidar das mudas de alguma área degradada do seu bairro. 2º) Não impermeabilize o solo, deixe a água infiltrar. Vale lembrar que casas com jardim e pomar são mais saudáveis. 3º) Usar água coletada da chuva para irrigar jardim e lavar calçadas, em vez de água tratada é outra boa medida.
Acontece Unimep Por outro lado, quais são as principais ações cometidas pela sociedade e que podem ter contribuído para a crise hídrica?
Sílvia Não temos o hábito de cobrar planejamento e políticas públicas dos gestores públicos e precisamos mudar. As cidades precisam ter mais áreas verdes não impermeabilizando o solo, melhorando infiltração e o microclima local. Nós também precisamos mudar hábitos, consumir menos e gerar menos lixo e aprender a não desperdiçar água em usos menos nobres como lavar calçadas.
Texto: Angela Rodrigues
Fotos: Bob Calligaris
Coordenação/edição de texto: Celiana Perina
Última atualização: 13/03/2015