249 anos: Piracicaba antes e depois da criação da Unimep
Prof. Dr. Gustavo Jacques Dias Alvim
Reitor da Universidade Metodista de Piracicaba e Vice-Diretor Geral da Rede Metodista de Educação
Piracicaba, na década dos anos sessenta, era uma cidade provinciana, com aproximadamente 115.000 habitantes, conhecida como “Cidade das Escolas”, dado o grande número de cursos primários e secundários, porém, no tocante aos cursos superiores, havia apenas os de agronomia, odontologia e serviço social. Diante dessas poucas ofertas de carreiras, alguns estudantes, ao concluírem o ensino médio, por vocação ou falta de opção, tinham de se submeter a processos seletivos muito concorridos, que atraíam candidatos de cidades de todo o país.
Os jovens pertencentes a famílias abastadas deixavam Piracicaba e iam em busca de vagas nas faculdades onde havia cursos de seu interesse, enquanto aqueles de classe socioeconômicas mais baixas, sem recursos para viverem e estudarem alhures, faziam cursos que não eram de seu interesse ou, simplesmente, desistiam de prosseguir nos estudos, indo diretamente para o mercado de trabalho, com a esperança de ocupar cargos que não exigiam nível universitário. Foram estes remanescentes que engrossaram o movimento ainda latente, cujas vozes, especialmente as políticas, lutavam pela instalação de novos cursos superiores, e que, concomitantemente passaram a estimular o Colégio Piracicabano a fazê-lo.
Sensível aos apelos do povo piracicabano e da região, dos poderes públicos, da imprensa, dos políticos, das associações classistas, dos clubes de serviço e de outras forças, a Igreja Metodista, por intermédio do Instituto Educacional “O Piracicabano”, decidiu criar seus primeiros cursos superiores, que formaram a “Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração de Empresas ‘Piracicabana”, conhecida por ECA.
Nesse movimento, aparecia com destaque a Associação Comercial e Industrial, que sentia os anseios de seus associados, ávidos por profissionais qualificados para atuarem em suas empresas. A falta de pessoal preparado era um entrave para o desenvolvimento e crescimento das áreas de comércio, indústria e serviços, na progressista “Noiva da Colina”, numa época em que o Brasil vinha atingindo novos patamares, no tocante ao desenvolvimento nacional, a partir do governo de Juscelino Kubitschek.
Assim, a conjugação de vários fatores e circunstâncias, a presença de atores empreendedores num cenário propício a iniciativas inovadoras, a existência de empresas já consolidadas no setor metal-mecânico e do açúcar e do álcool, a expansão da área de comércio propiciaram um casamento feliz entre a oferta de empregos e a necessidade preparação de mão-de-obra especializada.
Funcionando no horário noturno, a nova Faculdade propiciava a muita gente ocupada, já madura, também a volta aos estudos. As turmas iniciais, sobretudo a primeira, que somavam 160 estudantes aprovados no vestibular, foram compostas de calouros mais avançados em idade, vários casados, com filhos crescidos, que tiveram o caminho aberto para incrementarem suas carreiras e, assim, desfrutarem de melhores oportunidades profissionais.
Hoje, volvendo o olhar para o passado, focando-o a partir do início da década de sessenta, em plenos anos dourados, trazemos à memória a Piracicaba calma e pacata, conhecida pela beleza do salto, pela qualidade de suas escolas, pelo futebol do XV campeão do interior, pelos bondes elétricos, pela indústria metalúrgica, pelas lavouras de cana e as usinas de açúcar e álcool, pela paisagem encantadora, mas que muito mudou nestes últimos 50 anos. Analisando-se esse período constata-se que a criação da UNIMEP, em 1964, pode ser considerada “um divisor” na história de Piracicaba, separando-a em dois períodos distintos: antes e depois de seu funcionamento. Deu-se aí o início de suas grandes transformações com a chegada de novas empresas, sobretudo as de grande porte, que escolheram a cidade, dentre outros motivos, pelo fato de nela existir uma universidade de qualidade. Em decorrência há o aumento de emprego e renda. A qualificação de mão de obra e a presença de mestres e doutores são fatores auxiliares de seu desenvolvimento, que move a construção civil, que faz crescer o comércio numa cadeia que aumenta velozmente.
A UNIMEP vai se inserindo rapidamente em todos os setores da sociedade civil. Torna-se presente em todos os conselhos municipais, contribui na elaboração de planos de desenvolvimento para o município e região, expande a arte e a cultura (teatro, música, humor, balé, literatura, conferências e outras expressões), agasalha inúmeros eventos de diferentes naturezas (oferecendo seus espaços para a realização), colabora para o fortalecimento do esporte, faz publicações de diferentes gêneros, organiza acervos e museus, prepara profissionais qualificados para diferentes áreas (já são quase 60 mil os formados pela UNIMEP), muitos em posições de destaque no cenário nacional. Essa lista provocativa poderia se estender, porém deixo à comunidade essa tarefa, que, certamente, ao fazê-lo estará confirmando a assertiva: a criação da UNIMEP é realmente importante divisor!
Fotos: Helder Prado e Fábio Mendes
Última atualização: 1º/08/2016