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Professor da USP, ex-presidiário, fala sobre história de vida

por Universidade Metodista de Piracicaba — publicado 09/03/2015 12h29, última modificação 26/04/2016 15h52

Pedagogo, mestre, doutor em educação e docente na Universidade de São Paulo. Roberto da Silva, 57, teria uma história normal se não fosse seu passado: foi menor abandonado e passou parte da vida na cadeia. O modo de usar a trajetória pessoal como ferramenta de crescimento será abordado em sua palestra A História de Vida como Fundamento para a Transformação, que ocorre nessa quarta-feira, 11, às 19h30, no Teatro Unimep do campus Taquaral. A entrada é gratuita. 

A iniciativa integra o 1º Abre Cidadania, evento que inaugura os trabalhos do projeto Unimep na Comunidade e é realizado pela Coordenadoria de Extensão e Assuntos Comunitários.

Em entrevista à equipe de reportagem do Acontece Unimep, Silva falou sobre sua opinião à respeito do sistema penitenciário, de educação e de vida. Confira os melhores trechos da entrevista.

Unimep - De que maneira a história de vida ajuda a pessoa a se transformar?

Roberto - História de vida, tal como a beleza, a força física, a destreza esportiva e as habilidades artísticas podem ser administradas. O Estado, a justiça e a polícia fazem isso bem, mas contra a pessoa. O desafio é usá-la a favor. A história, por si só, é o testemunho vivo de que as pessoas podem mudar e que o exemplo educa só pelo fato de torná-la pública. Boas histórias de vida abrem diferentes portas e oportunidades, ampliam o círculo de relações e impõem certas posturas éticas e estéticas para a pessoa.

Unimep - Conte um pouco da sua história. Quais dificuldades enfrentou para chegar à fase que está hoje?

Roberto - Eu vivi em abrigos e Febems dos dois aos 17 anos de idade, nas ruas dos 18 aos 23 e na cadeia até os 33 anos. O fato de eu descobrir minha própria história em arquivos do antigo juizado de menores, aos 15 anos de idade, me fez perceber que eu teria de tomar posse dela e reconstruí-la de modo diferente do que as pessoas pensavam e reservavam para mim.

Unimep - Uma história, como a sua começou, geralmente possui um final triste. Como manteve a esperança de crescer e que mecanismos e estratégia usou para triunfar?

Roberto - Os finais tristes acontecem quando cabe a outros escreverem o fim da nossa história. Quando a pessoa toma o seu destino em suas mãos, cabe a ela escrever o roteiro final. A tendência do ser humano, como dizia Paulo Freire, "é de ser mais", de ser feliz. Cada um deve encontrar sua estratégia e persistir nela até que perceba as primeiras transformações e se convença de que está no caminho certo. O resto do caminho se faz caminhando.

Unimep - Por que escolheu pedagogia e educação?

Roberto - A educação que me escolheu e ela me levou onde estou hoje. Se eu fosse escolher estaria na luta armada, na guerrilha, provavelmente morto, pois o caminho é que faz o caminheiro e não o inverso. A dificuldade da maioria das pessoas é escolher o caminho porque não tem opções ou não tem as qualificações para seguir determinados caminhos. 

Unimep - Atualmente a criminalidade cresce assustadoramente. O país está fragilizado com a situação política e as pessoas não têm visão de que isso possa melhorar. Como inverter essa situação? Isso passa pela educação?

Roberto - Atribuo este clima de insegurança, de medo e de frustrações à "deseducação". Isto é, a falta de bons exemplos, de alto a baixo na sociedade. Toda a visibilidade é dada ao mau exemplo, e as pessoas aprendem rápido que o caminho fácil leva à riqueza e à fama. Que estas levam à impunidade pela possibilidade de comprar e vender tudo o que quiser, inclusive a honra e a liberdade.

Unimep - Que ações podem ser feitas para que o sistema penitenciário seja melhorado?

Roberto - Tirando os pobres da cadeia e colocar os ricos que merecem estar lá, do dia para a noite a cadeia melhoraria. Enquanto não mudar o perfil do preso - de baixa escolaridade, baixa qualificação profissional, pouca capacidade de articulação social e quase nenhuma compreensão de como a sociedade funciona - o sistema penitenciário não muda.


Texto: Serjey Martins
Fotos:  Marcos Santos/ USP Imagens
Coordenação/edição de texto: Celiana Perina
Última atualização: 26/02/2015

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