TV Bahia: histórias de um unimepiano de jornalismo
"Almoce no boteco da esquina, não na praça de alimentação, diz Dalton Soares, 42, formado em 1996 no curso de jornalismo da Unimep e, atualmente, repórter e editor na TV Bahia, onde possui o quadro culinário semanal Panela de Bairro. O jornalista é o destaque da coluna Ouro da Casa dessa semana e contou, além da sua trajetória, sobre como o prazer de conhecer novas pessoas e a sensibilidade ao cotidiano delas o ajudaram na profissão. Confira os melhores trechos:
Acontece Unimep - Conte sobre seu trabalho atual?
Dalton Soares - A Bahia (de todos os santos e orixás) me recebeu de braços abertos há 11 anos. Desde então, trabalhei na TV Bahia (afiliada à Rede Globo) como repórter, produtor, apresentador e editor-executivo no núcleo da Rede Bahia Revista, a revista eletrônica exibida logo após o Fantástico (recentemente a grade foi alterada e as afiliadas de todo país acabaram perdendo o horário). Hoje, faço reportagens para os jornais diários e o quadro semanal chamado Panela de Bairro. Uma curtição para quem gosta de "butecar" e conhecer os pratos tão especiais que o baiano aprecia: moquecas, mariscos, escondidinhos, arrumadinhos, etc. Buscamos sempre mostrar a cara e a história dos donos de bares e pequenos restaurantes, apresentando as receitas de maneira divertida. Há uma competição mensal em que o internauta do G1 vota no melhor prato. Dá para medir o sucesso de audiência já que atingimos mais de 500 mil votos em 10 edições do quadro.
Acontece Unimep - Quais foram os desafios de atuar na Bahia? Fale também o que aprendeu com eles?
Soares - O desafio foi o de conhecer uma cultura totalmente diferente e se despir de preconceitos. Foi fundamental ouvir na TV os auxiliares, cinegrafistas e a "tia" do refeitório. Alguns conselhos: vá para a rua, não para o shopping. Almoce no boteco da esquina, não na praça de alimentação. É importante entrar no universo que vai ser a matéria-prima do nosso trabalho: conhecer o povo, seu jeito de falar, as particularidades que formaram o amálgama das pessoas com quem vai conviver. O que ajudou muito por aqui foi a TV Bahia ser uma emissora que instiga o exercício diário de se reinventar como profissional e buscar novas fórmulas. Sempre nos foi dada muita liberdade. Nós falamos a linguagem dos baianos e nos orgulhamos muito disso. Desde a mais singela matéria de comportamento, de esporte ou nas reportagens de reclamação de buraco, da pouca iluminação da rua, ou da falta da água na casa da "Dona Maria". Mergulhar no "universo do outro" é importante, seja se a pretensão é ser correspondente internacional ou jornalista neste país de dimensão continental. Trabalhei durante 10 anos no interior no SBT (Campinas), Record (São José do Rio Preto) e EPTV (São Carlos). Creia: mesmo se tratando de interior de São Paulo, existem diferenças sutis em todas elas. As formações dessas regionalidades são díspares e, por isso, fascinantes!
Acontece Unimep - O que esse trabalho tem de especial para você?
Soares Hoje, o quadro Panela de Bairro dá prazer incrível, justamente por ajudar famílias que "tocam" os bares, vivem do trabalho árduo na cozinha e acabam ganhando, de uma hora para outra, reconhecimento de todo o Estado. Quem não gostaria de ver a receita, aprendida com a avó, mostrada para toda a Bahia e ainda receber prêmio, ao vivo, no final da edição da competição?
Acontece Unimep - Tem alguma lembrança especial da época da faculdade?
Soares - Acredito que os professores da Unimep foram, particularmente, importantes na formação da nossa turma. Entramos na universidade em 93 e fomos a primeira turma de jornalismo no campus Taquaral. Convivemos com o processo natural de transição e a parceria entre alunos e professores firmou laços que duram até hoje. Os laboratórios ainda estavam em fase de chegada de equipamentos e testes, por isso descobrimos tudo isso juntos. Botão, Fefeu, Ana Maria, Dênis, Rondon, Belarmino, todos eles foram muito mais amigos e parceiros do que simplesmente professores.
Acontece Unimep Como dica para os alunos, diga quais são os desafios do jornalista e como superá-los?
Soares Leia muito (livros, hoje precisa dizer isso (risos)). Ouça muito (a todos, o "seu Zé" que embrulha o pão na padaria pode ter a história da sua próxima pauta). Reescreva bastante (você vai suar). Busque o simples, sem perder de vista a criatividade: uma história bacana pode ficar um "saco" de assistir, se for mal contada. Outra nem tão boa, fica genial se tiver o dedo de um bom repórter. Pense sempre que jornalismo hoje integra diversas linguagens. Você vai fazer reportagem com uma equipe de TV e ela pode "virar" para o site da mesma empresa. Integração é a palavra (para a alegria de nossos patrões (risos). E, finalmente, desista da profissão se as pessoas não lhe dão prazer. Elas serão seu material de trabalho. Quem não tem prazer de ter uma boa resenha não vai ser feliz como jornalista. Abraço a todos, e até a próxima cerveja com piapara no tambor da rua do Porto (dá saudade, viu?!).
Para conhecer um pouco do trabalho de Dalton e do quadro Panela de Bairro, acesse: http://g1.globo.com/bahia/bahia-meio-dia/videos/v/panela-de-bairro-tem-vinagrete-de-polvo-um-dos-pratos-preferidos-do-compadre-washington/4727595/
Texto: Serjey Martins
Fotos: banco de imagens
Edição e Coordenação: Celiana Perina
Última atualização: 29/04/2016