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Unimepiana leva histórias e realidades das ruas para as mídias sociais

por Universidade Metodista de Piracicaba — publicado 13/01/2015 12h01, última modificação 26/04/2016 15h52

"Somos da Colômbia, gostamos de viajar pelos países, conhecer pessoas novas, essa é a nossa vida. Passar por vários lugares é divertido, né? Somos amigos, hoje estamos aqui e amanhã em outro lugar, o dinheiro vem dos malabares. Nossa família ficou na Colômbia, eles sabem que estamos bem”. O relato é dos colombianos Duende, 22, e Santiago, 20, e um dos depoimentos colhidos e postados por Carolline Beraldo, produtora e jornalista da TV Unimep, na fan-page de sua autoria Despercebidos.

Idealizado por Caroll, como é conhecida profissionalmente, o projeto consiste na divulgação na rede de histórias de pessoas marcadas pela realidade das ruas.  “O público tem aderido à proposta da página. Em apenas uma semana tive cerca de 750 curtidas e recebi muitas mensagens de incentivo, o que foi maravilhoso! É fundamental o retorno deles para a evolução da página, estou bastante feliz com o resultado. E com o festival poderei dar mais visibilidade aos entrevistados e terei uma nova experiência que será a exposição, minha primeira de muitas, assim espero!”, destaca ela, que é a única idealizadora da iniciativa, capta os depoimentos, transcreve, produz fotos, edita e posta.

Dentre as histórias ouvidas pela jornalista estão relatos de artistas de rua, prostitutas e viciados, pessoas que, como reforça Caroll, estão ao nosso redor diariamente, porém sem voz na sociedade. “São depoimentos que chamam a atenção, fazendo com que todos possam refletir sobre a própria vida e ter um olhar mais amoroso para com o próximo”, conta ela, que se inspirou na também fan-page SP Invisível.

Outros detalhes sobre a iniciativa foram citados por Caroll em entrevista à equipe de reportagem da Unimep assim como suas expectativas e as histórias que mais a tocaram. Confira os melhores trechos do bate-papo:

Unimep Já: Como surgiu e ideia para o projeto Despercebidos?

Carolline Beraldo: Desde que soube da página “SP Invisível”, que retrata a realidade dos moradores de rua em São Paulo, me encantei pela iniciativa e fiquei com vontade de ouvir essas pessoas também. Após algum tempo, decidi colocar a ideia em prática. Sou admiradora das artes manuais e, sempre que voltava do trabalho, me deparava com um artista de rua perto do Terminal Central de Piracicaba, o Hamilton, que fazia brincos, colares, filtro dos sonhos e sempre parava para observar o trabalho dele. Em um desses dias, conversamos e fiz o convite para que fosse o 1º entrevistado, já que ele me parecia ser uma pessoa com muitas histórias. Ele aceitou, levei o celular para captar o áudio, tirei uma foto também com o celular e assim nasceu o projeto Despercebidos.

Unimep Já: Você é a única idealizadora do projeto?

Caroll: Sim. Eu mesma converso com as pessoas, tiro a foto e alimento a página, mas contei com a colaboração de amigos na criação da arte (logo e imagem de capa). O nome também surgiu em uma roda de conversa entre amigos, concluímos que essas pessoas são despercebidas, a sociedade não quer enxergá-las.

Unimep Já: As pessoas que dão os depoimentos são todas de Piracicaba?

Caroll: Já entrevistei pessoas da Colômbia e do Uruguai, que estavam de passagem por Piracicaba. O projeto está tomando forma na cidade mas isso não significa que ele não possa se espalhar. Se estiver viajando, por exemplo, levarei o projeto comigo e buscarei novos depoimentos independente do local, afinal, os despercebidos estão por todos os lugares, prontos para serem ouvidos.

Unimep Já: Quantos pessoas você já entrevistou?

Caroll: Até o momento, cerca de 10 pessoas. Nem todas são moradoras de rua e isso é importante ressaltar, algumas são, outras moram em pensão ou têm sua própria casa. Depende da história de cada um.

Unimep Já: Qual foi a história que mais chamou a sua atenção e por quê?

Caroll: Todas chamam a minha atenção. Já me perguntaram qual critério utilizo para escolher as pessoas e, simplesmente cheguei a conclusão que não existe. Eu sou impactada por elas, elas me escolhem, chamam minha atenção e me fazem parar para conversar. Sinto que meu olhar mudou. Estou mais atenta para as situações que me cercam, mais interessada no ser humano e em suas experiências. O “Despercebidos” com certeza foi um divisor de águas em minha vida, me vejo como a Caroll antes e a Caroll depois do projeto. Nunca havia feito um trabalho que me deixasse tão realizada e feliz! Quando estou conversando com aquelas pessoas me sinto completa, útil, é como se tivesse a certeza de que é exatamente ali que eu deveria estar. Isso me deixa extremamente satisfeita por ter escolhido cursar jornalismo. De repente, tudo faz sentido de uma maneira muito forte!  
Uma história que marcou bastante foi quando entrevistei uma prostituta com uma urgência impressionante de desabafar, compartilhar seus problemas e dores. Antes mesmo de estar com o celular preparado para gravar ela já tinha começado a se abrir. Aquilo me tocou bastante, principalmente quando ela me disse que durante todo o tempo em que esteve ali fazendo programa, cerca de um ano, eu tinha sido a primeira pessoa com quem ela conversava de fato. Foi um verdadeiro “tapa na cara”, um choque de realidade. Quem hoje em dia não gosta de atenção? De ser ouvido? Fiquei feliz por aliviar um pouco o sofrimento daquela mulher, que no final ainda me desejou boa sorte e sucesso em minha carreira.

Unimep Já:  Há algum tipo de atendimento social aos moradores, ocorrido após a sua iniciativa de divulgar as histórias?

Caroll: Não. A página serve para dar visibilidade a essas pessoas, para que elas tenham voz. Infelizmente, não tenho como tirá-los da rua, porque essa é uma decisão que precisa partir deles, mas sempre procuro conversar e incentivá-los a procurar ajuda. Recentemente encontrei um usuário de crack. Quando nos vimos, contei que havia publicado sua história, ele me deu os parabéns e ficou feliz, até me orientou a estar sempre com alguém quando estiver a trabalho, buscar conversar em locais com bastante pessoas, para que eu não corra nenhum perigo, já que segundo ele “na rua você encontra todo tipo de gente, pessoas boas e ruins”. Nesse dia, ele me contou que iria se internar, foi um retorno incrível!

Texto: Angela Rodrigues
Fotos: Christian Braga
Edição/texto: Celiana Perina
Última atualização:  13/01/2015

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