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Slow food é muito mais que o incentivo à refeição sem pressa

por marsanta publicado 14/11/2017 13h35, última modificação 21/11/2017 11h22
Slow food é muito mais que o incentivo à refeição sem pressa

 Valorização da agricultura local e do patrimônio alimentar da região. Essa é a essência do slow food, um movimento que se posiciona contra a padronização alimentar. "Podemos resumir sua filosofia em três pilares: o alimento precisa ser bom, limpo e justo", diz a professora Mariana Ávila Maronna, coordenadora do curso de gastronomia e uma das líderes do movimento em Piracicaba. "A alimentação é boa por ser saborosa; limpa porque os ingredientes são cultivados pela agricultura orgânica e sustentável; e justa pelo fato de o produtor receber, sem intermédios, pelo o que cultiva e vende", ressalta a professora Miriam Coelho de Souza, coordenadora do curso de nutrição, que também se envolveu na organização. A professora Mariana está envolvida na organização de um piquenique, que será realizado em dezembro no município de São Pedro, onde mais de 50 tipos de frutas nativas são cultivadas.

Movimento nutricional, gastronômico e social

"O movimento se relaciona com a nutrição principalmente na sustentabilidade e qualidade da alimentação" explica a professora Miriam. Para ela, prescrever dietas é uma responsabilidade social. "Nutricionistas prezam pela dieta balanceada e variada - e o slow food valoriza a diversidade saudável e as culturas locais" conta a docente.

Em relação à gastronomia, a professora Mariana ressalta que o movimento contribui para a conscientização sobre alimentação e avanços políticos na área. "O slow food ressalta o valor e a qualidade dos alimentos nacionais e foi determinante para a permissão de comercialização de certos ingredientes", afirma ela. Um exemplo disso é o queijo canastra, de origem mineira. Por conta de sua produção artesanal, que utilizava leite cru (não pasteurizado), a comercialização do ingrediente fora do estado era proibida. Apenas em 2013, o queijo ganhou o selo de inspeção do Instituto Mineiro de Agropecuária e do Sistema Brasileiro de Inspeção (Sisbi). Esse selo é equivalente ao da Secretaria de Inspeção Federal (SIF), que permite a venda em todo território nacional.

Para Lucas Santana, aluno do 4º semestre do curso de gastronomia da Unimep e estagiário na cozinha pedagógica da universidade, o slow food oferece uma perspectiva diferente da alimentação, desde o que se come até o "ritual" de se alimentar. "Quero me envolver mais na causa, mas por enquanto ainda é algo elitizado. E isso foge dos princípios do próprio movimento" diz ele. Por outro lado, o aluno ressalta que a prática de repensar a cultura alimentar tem crescido, o que o deixa otimista sobre o potencial do movimento. "Espero que os envolvidos trabalhem de maneira mais acolhedora, dando atenção às comunidades menos favorecidas", comenta.

 

CONTRAPONTO

Fundado pelo italiano Carlo Petrini em 1986, o movimento slow food é atualmente internacional. O que começou como um contraponto às redes de fast-food na cidade de Bra, em Piemonte (Itália), hoje conta com mais de 100 mil membros associados espalhados em 150 países, segundo o portal oficial Slow Food Brasil.

Em Piracicaba, a professora Mariana relata que o movimento chegou em 2005. E desde 2008, ela atua como uma das facilitadoras (algo parecido com organizador) do movimento na cidade. "Desde que me formei em gastronomia, em 2001, já entendia a importância de se valorizar produtos nacionais e locais. Além disso, meu objeto de estudo sempre foi cozinha italiana. Foi assim que descobri o slow food", conta ela.

 

Texto: Pedro Spadoni
Edição e coordenação: Celiana Perina
Fotos: Banco de imagens
Última atualização: 14.11.2017